Hoje despertei com a palavra Poesia no pensamento e é precisamente sobre ela que agora vou deambular. Já muitas vezes ouvi dizer “não gosto de poesia”, mas apercebo-me de que esta afirmação é proferida como desculpa. Numa das muitas situações com que já me confrontei, resolvi fazer uma experiência. Pedi à pessoa que tinha diante de mim que fechasse os olhos e relaxasse. O que fiz depois? Li-lhe um poema aleatoriamente, na primeira página que abri. Era de Fernando Pessoa.
Querem saber o que aconteceu depois? Quando lhe solicitei que abrisse os olhos, disse-me apenas “tão bonito”. Mas, afinal, não gostava de poesia…
A diferença é que naquele instante permitiu-se sentir a poesia, sentir as palavras, distante de tudo o que é supérfluo à sua volta e que distrai. Naturalmente, gostamos mais de uns autores do que outros, de uns poetas do que outros, mas recusarmo-nos a sentir a poesia é bem diferente. É mais simples ignorar e dar respostas rápidas.
Contudo, a poesia é de todos. Dos que leem, dos que escrevem, dos que ouvem, dos que sentem, dos que abraçam cada palavra. A poesia pode inspirar-se nos mais simples elementos do quotidiano. O sujeito poético tem os seus momentos de catarse para se reencontrar por entre as palavras, os gritos que a alma precisa de libertar.
A poesia descobre um mundo novo no interior do mundo conhecido porque está em cada recanto e tantas são as vezes que não sabemos escutá-la através dos sentidos. Pretende-se que a poesia seja acessível a todos, que se sinta a poesia, pela voz que a lê, declama ou discute, pelas palavras que nos chegam, pela rima ou pelo verso branco porque as palavras traduzem estados e emoções e criam cumplicidades.
De acordo com Audrey Azoulay, a poesia, em todas as suas formas, é uma poderosa ferramenta de diálogo e de aproximação. Expressão íntima que abre portas aos outros, enriquece o diálogo – fonte de todos os progressos humanos - e tece laços entre as culturas. Para contrariar muito deste ritmo ansioso ou, por vezes, indisposto que invade os dias de muitas pessoas, são necessários momentos cheios de poesia que ressoe em cada corpo, que os faça estremecer, que reverbere a vida, que se embeba do quotidiano, que seja alimento e que nos espante com a sua simplicidade.
O poeta espanhol Frederico García Lorca diz-nos também que a poesia é a união de duas palavras que ninguém poderia supor que se juntariam, e que formam algo como um mistério.
E tu? Vais permitir que a Poesia contagie os teus dias cansados?
Elisabete Brito
Uma casa na lua
Olá, convido-te para a minha Casa na Lua!
Elisabete Brito é doutorada em Sociologia, Mestre em Educação e Bibliotecas e licenciada em Literaturas Modernas. Na escrita mora a sua forma de ser, de ler e de estar, entranhada em tudo o que faz. Com as palavras pinta o mundo, costura os sentidos, reinventa os dias e, acima de tudo, brinca. Gosta dos abraços do mar, do charme das flores e dos segredos que guardam as noites estreladas, de andar com a cabeça nas nuvens e dos mistérios cheios de poesia.
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