Ler em tempos de Verão

Eu devo dizer que acho a televisão muito educativa. No momento em que alguém liga a televisão, eu vou à biblioteca e leio um livro.

Groucho Marx (Julius Henry Marx)


Nessa busca por mais conhecimento, os livros continuam a ser os melhores aliados para compreendermos o presente e impedirmos o medo e a ignorância de nos vendarem os olhos.

Elísio Borges Maia

Junho aproxima-se do final e com ele termina o ano escolar para os mais novos. Todos os outros foram paulatinamente findando e os exames vão acontecendo. O verão já começou (ainda que te perguntas por onde anda entre estes solavancos). Os mais novos anseiam pelos dias grandes. As férias de verão são fundamentais para as crianças relaxarem, estarem em contacto com a natureza e divertiram-se com a família e/ou amigos.


Se uns querem esticar ao máximo os dias a brincar, outros certamente tenderão a estender as longas horas destes dias em frente aos ecrãs. Todos sabemos ou pelo menos já ouvimos falar acerca dos efeitos dos ecrãs, principalmente nos mais novos. Mente sã em corpo são. Esta ideia do poeta romano Juvenal faz cada vez mais sentido e as férias são excelentes para cultivar o corpo e a mente ao ar livre. Está na hora de começarmos a encetar mudanças, com benefícios futuros.


Com o findar da escola, em muitos casos desliga-se também da leitura. A sedimentação dos hábitos de leitura não tem um tempo marcado. Para que se concretize essa fixação dos hábitos e do gosto pela leitura é necessário que haja uma aproximação contínua entre os leitores e os livros.


Pensando nos mais novos, as leituras de verão ajudam-nos a reter hábitos de aprendizagem (claro que não falo no contexto escolar habitual), mas essa aproximação permite que não percam o habitus (Bourdieu). Muitas vezes, a ausência do estímulo de leitura faz decrescer esse habitus e, em setembro, quando regressam é visível uma diminuição da capacidade de retenção. Não podemos descurar e é percetível o facto de o ato de ler carregar efeitos sociais, culturais, políticos, linguísticos e cognitivos nos indivíduos.

Não podemos pensar que depende sempre do outro esse papel do estímulo da leitura. É fundamental que haja, desde muito cedo, o propiciar em ambiente familiar desse ambiente onde o livro faz parte dos hábitos quotidianos. A atitude da família para com os livros e para com a leitura é fulcral porque o número de livros de que o aluno dispõe em casa, assim como a acessibilidade a bibliotecas detém uma preponderância positiva nos níveis de literacia.


Noutros tempos, havia um predomínio do analfabetismo – ato de ensinar e de aprender a leitura, a escrita e o cálculo. Daí a existência da convicção de que a escolarização poderia erradicar o analfabetismo. Não obstante, tornou-se percetível de que a escolarização não é sinónimo de alfabetização. Saber ler e escrever foram sinónimo, durante muito tempo, de decifrar e saber copiar palavras, frases ou pequenos textos.


Conquanto, já não se trata de saber ler ou escrever, mas do uso da capacidade de utilização da língua escrita (associado a aprendizagens deficientes e mal sedimentadas) e o facto de essa ausência de compreensão ser fator de exclusão económica e social. A literacia tem consequências preponderantes, altera o nosso autoconhecimento e a nossa visão do mundo e, como sinal de pertença a uma sociedade cada vez mais exigente. Por isso, ler estimula, similarmente, o convívio social e a interação entre os indivíduos.

Deste modo, as leituras de verão são insubstituíveis e é possível haver espaço para uma multiplicidade de atividades, onde se inclui também a leitura. Esta permite que a criança mantenha a sua capacidade de reter informação, mas também estimula o seu conhecimento geral, assim como o seu pensamento crítico.


Poder-se-á começar pela sugestão de um conjunto de livros sobre temas que despertem o interesse da criança e aí estarás a transmitir segurança e objetividade na necessidade de hábitos regulares de leitura. Uma ida às compras poderá ser excelente para adquirir esses livros. Porque não aproveitar o tempo de pausa para criar jogos divertidos e desafios em torno da leitura? O exemplo é sempre o melhor remédio, neste caso, o melhor estímulo (ler em voz alta, leitura partilhada, ler poesia, lengalengas, visitas a diferentes bibliotecas onde possam passar férias).


Deixo-te algumas sugestões de leitura (durante os próximos tempos falar-te ei de outras), de autores portugueses, que vais querer descobrir. Qual delas vais querer explorar? Dá o primeiro passo para seres e fazeres a diferença!


Elisabete Brito


Uma casa na Lua

Olá, convido-te para a minha Casa na Lua!

Elisabete Brito é doutorada em Sociologia, Mestre em Educação e Bibliotecas e licenciada em Literaturas Modernas. Na escrita mora a sua forma de ser, de ler e de estar, entranhada em tudo o que faz. Com as palavras pinta o mundo, costura os sentidos, reinventa os dias e, acima de tudo, brinca. Gosta dos abraços do mar, do charme das flores e dos segredos que guardam as noites estreladas, de andar com a cabeça nas nuvens e dos mistérios cheios de poesia.

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