- Mamã, a avó disse que os ovos do coelhinho da Páscoa perderam a cor e o brilho! Assim não tem graça.
- Meu amor, é como a vida. Se as ações que praticamos são más, a vida vai perdendo o brilho. Vou contar-te a história. A avó só te contou um pequeno floco de neve.
O pequeno Gonçalo sentou-se no colo da mãe, com os olhos a crescer.
Aproximava-se a Páscoa e o Coelhinho da Páscoa andava ainda muito atarefado a colorir os ovos que iria distribuir pelas crianças. O ovo simboliza a fertilidade e o renascimento da vida desde há muitos séculos. Pela Páscoa renova-se a esperança e o amor. Aqueles ovinhos vibravam com o brilho das cores de cada pincelada. Andava ele tão entusiasmada na sua azáfama, com ovos espalhados pela casa e pelo alpendre, que não se apercebeu dos passos que se aproximavam.
Gonçalo pulou no colo da mãe e os olhos piscaram muito rápido. Sorriu.
Três homens vestidos de escurso, com o semblante carregado tapado por um chapéu de abas mais largas, começaram a pegar nos ovos que secavam em redor do alpendre. Uns mais pequenos, outros maiores. Levaram-nos, sem se preocuparem com a magia que eles guardavam.
- Oh… mamã, a avó tem ovinhos com pintainhos lá dentro e estão quase a nascer. Ela mostrou-me como eles estão bem aconchegadinhos na galinha. Mas o Coelhinho não pode pintar esses ovinhos.
- Claro que não, meu amor! Desses vão brotar novas vidas! Essa é também a magia da Primavera, o renascimento após um longo inverno e não é por acaso que a Páscoa chega depois da Primavera!
Quando o Coelhinho da Páscoa deu conta de que os seus preciosos ovos tinham desaparecido, num primeiro instante as pernas fraquejaram e umas lágrimas teimosas começaram a cair-lhe sobre o rosto. Apercebeu-se de imediato do que tinha acontecido. Estava tão entusiasmado que não sentira os passos no exterior. As crianças iam ficar sem os seus ovos? A alegria estava comprometida? Como podiam os homens ser tão gananciosos e cruéis?
À medida que os três homens se foram distanciando, os ovos foram perdendo o brilho e a cor, como os dias cinzentos.
O Coelhinho da Páscoa decidiu tomar uma atitude, apesar de saber que os ovos não aguentariam por muito tempo o seu esplendor em mãos alheias. Naquele instante lançou para os céus a magia dos seus pozinhos de Perlimpimpim, fazendo com que os ovos roubados se transformassem em pedras sem qualquer valor onde quer que estivessem.
Quando os três homens chegaram ao seu destino, os sacos tinham-se tornado demasiado pesados. Espreitaram e lá dentro estavam apenas pedras. Pedras? Coçaram a cabeça e soltaram um grito chocado porque os seus planos tinham saído furados.
O Coelhinho continuou a pintar com mais afinco ainda para que todas as crianças pudessem ter o seu ovinho. Na verdade, a coragem, o engenho e um rasgo de imaginação do Coelhinho davam vida aos sonhos e ele queria que isso prevalecesse em cada menino. Conseguiu, assim, concluir a sua árdua tarefa de levar a bondade, a generosidade e o amor a todas as crianças.
- Foi o coelhinho da Páscoa que deixou aquele ovinho que está a espreitar à janela, mamã?
- A magia mora no teu coração! Nunca te esqueças, meu pequenote de que as ações descabidas dos homens, cheias de ganância, rancor e ódio, encobrem o sol e destroem sorrisos. Precisamos de mais corações puros como os das crianças para que ela jamais se dissipe.
- Os pintainhos estão a nascer – ouviu-se a voz da avó no exterior.
Elisabete Brito
Uma casa na Lua
Olá, convido-te para a minha Casa na Lua!
Elisabete Brito é doutorada em Sociologia, Mestre em Educação e Bibliotecas e licenciada em Literaturas Modernas. Na escrita mora a sua forma de ser, de ler e de estar, entranhada em tudo o que faz. Com as palavras pinta o mundo, costura os sentidos, reinventa os dias e, acima de tudo, brinca. Gosta dos abraços do mar, do charme das flores e dos segredos que guardam as noites estreladas, de andar com a cabeça nas nuvens e dos mistérios cheios de poesia.
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