Os horizontes que nos abrem os livros pela leitura

Óscar. 18 meses. Uma tarde agradável e cheia de gente nos jardins do Palácio de Cristal. O carrinho onde seguia parou em frente à mesa d’ O Guardião dos sonhos. Com um olhar curioso que guardava um sorriso, olhou para mim e para o guardião sobre a mesa. Serenamente, acedi ao pedido do olhar. Folheei cada página, com tempo. Uma vez e outra. O olhar continuava preso ali, sem precisarmos de palavras. Assim partiu O guardião dos sonhos para uma nova morada, a do Óscar e dos pais, para crescer como crescerá este menino, para darem as mãos.

Mateus. 5 anos. Um olhar doce e malandreco. Uma pergunta curiosa aproximou-o de mim. A pergunta envergonhou-se e não quis ser conhecida. O Mateus queria um livro novo. O Mateus queria conhecer este guardião e foi assim que o levou, bem juntinho do coração onde se guardam os tesouros silenciosos, para casa, para se conhecerem, para criarem laços.

Sem fotos, apenas com olhares. O primeiro e o último leitor. Por que te falo sobre eles? O que têm em comum? Tudo. Ambos têm menos de 6 anos e com eles levaram O guardião dos sonhos. Não sabem ler ainda. Sentem o poder das palavras através da voz de outrem e assim se deixam voar pela imaginação. Vão crescer e vão sentir cada palavra com sentidos diferentes, uma e outra vez. Quem disse que cada livro tem uma idade? Cada livro tem um leitor e há um momento para cada encontro. Diria que livro e leitor se escolheram mutuamente, de uma forma muito vincada. Já tive inúmeras situações como estas. E tu?

Empatia foi o que se gerou naqueles jardins entre estes meninos e este livro. Queriam voar entre os sonhos através deste guardião. Naquele momento encontraram o livro que os conduzia pelos caminhos que o mundo precisa de explorar porque ler é também aprender a habitar o mundo com um novo olhar.

E quando crescerem? Depende muito do que fizermos hoje para construir o amanhã. Depende deles? Também, mas não só. Virá o tempo em que aprenderão a ler, mas engana-se quem pensa que a aprendizagem da leitura e da escrita que se realizam na escola habilita automaticamente qualquer indivíduo para a compreensão e para a produção de qualquer tipo texto, ao longo da vida adulta.

É fundamental criar disposições duráveis que promovam os níveis de literacia. É essencial ter em consideração que a literacia não tem unicamente a ver com o facto de se possuírem habilitações e conhecimentos. É fulcral a forma como estes são aplicados pelas pessoas no meio ambiente envolvente. Se essas competências não forem aplicadas no dia a dia, elas são vulneráveis à regressão, ou seja, vão-se esmaecendo e mesmo retrocedendo.

Recomeçam em todas as escolas as rotinas. Dos mais novos aos mais velhos. Um novo ano letivo com muitas aprendizagens, sorrisos, abraços, brincadeiras e muitas leituras, também elas cheias de magia e aventuras, com espaço para conversar com os textos, independentemente do assunto.

Em todas as disciplinas há textos para descobrir, por isso depende de todos e de cada um fazer a diferença para que os programas não sejam apenas programas e para construir um futuro diferente em que a leitura transforma e nos torna gigantes, na escola, em casa ou em qualquer outro lugar.

Elisabete Brito

Uma casa na Lua

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Elisabete Brito é doutorada em Sociologia, Mestre em Educação e Bibliotecas e licenciada em Literaturas Modernas. Na escrita mora a sua forma de ser, de ler e de estar, entranhada em tudo o que faz. Com as palavras pinta o mundo, costura os sentidos, reinventa os dias e, acima de tudo, brinca. Gosta dos abraços do mar, do charme das flores e dos segredos que guardam as noites estreladas, de andar com a cabeça nas nuvens e dos mistérios cheios de poesia.

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