Professor de sonhos e realidades

A 1.ª República inicia-se em Portugal com a sua proclamação, precisamente a 5 de outubro, no ano de 1910. Por isso hoje se celebra este feriado. Não vou dar-te uma lição de História.


Então por que te falo sobre isso hoje? Porque, além do feriado, o calendário assinala também o dia mundial do Professor, aquele ser que escolhe ensinar, que abre horizontes, que mostra novos mundos. Este dia é celebrado desde 1994, sendo adotada a Recomendação da Organização Internacional do Trabalho e da UNESCO, de 1966, com intuito de realçar e reconhecer o papel fulcral dos professores na construção de uma sociedade mais inclusiva.


O acesso à educação de qualidade é um direito humano fundamental, que consta na carta dos direitos fundamentais da UE. Por isso, ao longo de alguns anos são muitos os professores que vão passando pela nossa vida. Há poucas pessoas que nos marcam tanto como eles. Não pela simples troca de conhecimento, mas pela viagem conjunta, onde cada um contribui para o crescimento do outro.


As suas palavras e gestos têm o poder de despertar a curiosidade, de inspirar sonhos e até de nos fazer pensar de forma distinta. Quantas vezes ouviste ou disseste "o professor disse que é assim", como se tratasse de algo sagrado.


Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu. (José Luís Peixoto, 2011)


A minha memória é muito seletiva e guarda apenas aquilo que quer, de mão dada com o coração. Porquê? Achas que me lembro da matéria que estudei nono ano de Inglês, ou no quinto ano de Matemática ou ainda no décimo segundo ano de História? Não faço ideia sobre o que falamos. Mas sei que em mim ficaram gravados momentos que me inspiraram. A eles devo-lhes muito daquilo que hoje sou, não pelas matérias que lecionaram, mas por tudo o que me acrescentaram para além delas.


Os poemas de Fernando Pessoa que ainda hoje sei de cor e que tantas vezes ouvi na voz daquele professor de Português, o abraço caloroso que ainda encontro na professora de matemática, da inspiração do professor de Latim que me incentivou a acreditar naquele primeiro dia porque não podia escrever-se esta história de outra forma. Estaria aqui a divagar sobre muitos outros porque todos, à sua maneira, foram importantes.


Na verdade, nem todos conseguem conjugar o verbo amar desta forma tão simples. Todos tivemos, certamente, professores brilhantes, capazes de ter a serenidade necessária ainda que sempre com os olhos nas estrelas. Na verdade, talvez tenhamos também encontrado professores em que sentimos que nada nos acrescentaram, outros ainda que nos deixaram os cabelos em pé.


Sim, tive tudo isso, mas com todos eles aprendi a ser e não querer ser. Por isso, abraço, hoje de modo especial, aqueles que me ensinaram a crescer, que despertaram em mim a curiosidade, que me mostraram que as palavras têm paladares que voam na voz (Ah! Que saudades de sentir escutando tantos deles).


A todos aqueles que foram sol e farol e de tão especiais se tornaram amigos, a todos os que foram colegas, aos que estão distantes, aos que estão mais próximos, aos que abraçaram as estrelas, mas, mesmo assim, permanecem, aos mais recentes (longo foi o caminho) e àquela que abriu o caminho. Lucinda é o seu nome.


Abraço também com um colossal sorriso os alunos que me ensinaram a ser professora (não esqueçamos que antes do professor existe uma pessoa), a descobrir em mim outras formas de esculpir, de pintar, de escutar, de inventar, de brincar, de guiar, de olhar, de caminhar, de dar as mãos, de sonhar, de voar, de acreditar e sempre amar. Obrigada a todos que comigo caminharam além das montanhas!


Sei que não me limitei a replicar ou a fazer porque apenas tem de ser. Quis ser mais porque cada um precisava que eu fosse mais. Quis ser liberdade e inspiração. Quis que muitos "se" estivessem em muitos outros caminhos para que acreditassem, tal como eu, mas nem sempre foi fácil. Não sei se inspirei, mas vi-os arrumar a coragem para encetar o voo.

Elisabete Brito


Uma casa na Lua

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Elisabete Brito é doutorada em Sociologia, Mestre em Educação e Bibliotecas e licenciada em Literaturas Modernas. Na escrita mora a sua forma de ser, de ler e de estar, entranhada em tudo o que faz. Com as palavras pinta o mundo, costura os sentidos, reinventa os dias e, acima de tudo, brinca. Gosta dos abraços do mar, do charme das flores e dos segredos que guardam as noites estreladas, de andar com a cabeça nas nuvens e dos mistérios cheios de poesia.

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