Um, dó, li, tá, vamos lá brincar!

Brincar é a palavra-chave de hoje. Uma necessidade básica, tal como comer e beber. Um verbo fundamental, que agrega uma multidão. Um verbo que tem intrínseco muito para lá de um simples entreter com alguma coisa. Quem disser o contrário não saberá, certamente, o poder do brincar pela riqueza e complexidade da experiência. Por vezes ouve-se que as crianças só brincam e que isso é uma perda de tempo. Brincar e crescer, crescer e brincar devem sempre caminhar de mãos dadas.


Brincar é uma das atividades mais importantes para a criança, uma vez que através desse ato, aparentemente, tão simples conhece o mundo e o meio que a circunda, desenvolve as capacidades auditivas, visuais e sensoriomotoras, estabelece relações sociais e valores. Brincar é aprender, é experienciar, transformar problemas, repartir amizades e afetos, imaginar mundos, descobrir a pluralidade, surpreender e surpreender-se, criar e interpretar a partir das coisas mais simples, falar com o coração, escangalhar a rir só porque sim, espantar os medos com histórias, pensar a realidade com olhos da aventura, desafiar as nuvens, bordado em tons de liberdade.


Além disso, permite também que a criança desenvolva as suas capacidades intelectuais, a criatividade, a imaginação, a exploração e os sentidos. Brincar é aquilo que a criança melhor saber fazer. Neste caso centro-me mais sobre abrincadeira livre e não uma brincadeira estruturada e dirigida. Isso não significa que se deixe a criança completamente sozinha ou sem limites? É apenas um tempo que lhe permite eleger com o que quer brincar e de que forma o quer fazer, interagindo com o espaço, com o corpo e com o movimento. Também as brincadeiras entre pais e filhos são basilares para a criação de laços e para o estímulo da segurança da criança.


Para realçar a importância do brincar foi criado um Dia Internacional do Brincar durante a 8ª Conferência Internacional de Ludotecas em Tóquio, em 1999, através da então presidente da International Toy Library Association (ITLA). Celebrado pela primeira vez em 2000 e reconhecido no calendário da UNICEF, a opção pelo dia 28 de maio coincide com o aniversário da ITLA. Este dia celebra o artigo 31º da Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas, intensificando que brincar é um direito, uma fonte infindável de alegria, uma atividade elementar para o desenvolvimento do ser humano e substancial para a saúde física e mental.

Diferentes formas de brincar permitem que se liberte excesso de energia e ocorra um desenvolvimento muscular, mas são também essas brincadeiras que lhes permitem explorar a natureza e o mundo que rodeia a criança, imitam situações do dia a dia, reinventam momentos e constroem outros pela imaginação. Na partilha estimulam-se as relações sociais e o conhecimento de si. A criança percebe o seu lugar no mundo, o certo e o errado.


Na sequência de uma campanha do Grupo e fundação LEGO e que envolveu organizações de diferentes partes do mundo, as Nações Unidas adotaram, em 2024, o Dia Internacional da Brincadeira, celebrado já no próximo dia 11 de junho, com o intuito de defender e proteger este direito fundamental que, na verdade, não se consubstancia a todas as crianças do mundo.


Recuamos apenas uma década e é percetível que o ritmo de vida é hoje muito mais acelerado, o que condiciona o tempo disponível para brincar. Na sociedade atual, cada vez mais sedentária, e com os mais novos muito focados em ecrãs e consequentemente mais sentados e com menos movimento corporal, é basilar mudar hábitos, melhorar a saúde e a qualidade de vida.


Agora questiono-te a ti que és adulto, mas foste criança num tempo bem diferente daquele que hoje conheces. Sem ecrãs nas imediações, moviam-se as gargalhadas mais estridentes dos corpos felizes enquanto se jogava à macaca, ao lencinho, ao elástico, ao pião, ao berlinde, à cabra-cega, ao elástico, à bola e se saltava à corda, entre muitas outras que se inventavam. Quantas árvores subiste noutros tempos? Tiveste alguma casa na árvore? Que caminhos calcorreaste sem medo com os teus amigos? Qual a sensação que tinhas ao saltar pelas poças de lama depois dos dias de chuva? Quantos castelos construíste com lama ou areia? Quantos joelhos esfolaste a jogar à bola e não só? Que outras brincadeiras que esticavam fizeram parte dos teus dias?

No calendário assinala-se hoje com o intuito de sensibilizar os adultos para a urgência desta prática pelas crianças porque sempre que uma criança brinca “o mundo pula e avança”. Mas, na prática, todos os dias são dias de brincar para que estas cresçam saudáveis! Porém, brincar é vital mesmo quando nos pomos a crescer. Dizem que um adulto deve ter uma postura mais séria. Por que não pode ele brincar? Tal como disse Oliver Wendell Holmes "nós não paramos de brincar porque envelhecemos, mas envelhecemos porque paramos de brincar" e esse é um dos grandes problemas sociais. Brincar faz bem a pequenos e graúdos, promove a felicidade e alivia o stress, estimula a criatividade e a imaginação, reforça os laços, estimula a produtividade e acarreta boas energia. Faz bem ao corpo e à alma.


Por tudo isso, sinto cada vez mais que mim paira esta ideia do Brincador de Álvaro de Magalhães porque “Quando for grande, quero ser brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta.” Vou continuar a contrariar este tempo sem tempo e vou continuar a querer tempo para transformar momentos em brincadeiras com gargalhadas soltas e estridentes e tempo de silêncio para brincar com as palavras.


E tu? Aceitas o convite para encontrar tempo no teu tempo para recuperares esse espaço para o brincar?

Elisabete Brito


Uma casa na Lua

Olá, convido-te para a minha Casa na Lua!

Elisabete Brito é doutorada em Sociologia, Mestre em Educação e Bibliotecas e licenciada em Literaturas Modernas. Na escrita mora a sua forma de ser, de ler e de estar, entranhada em tudo o que faz. Com as palavras pinta o mundo, costura os sentidos, reinventa os dias e, acima de tudo, brinca. Gosta dos abraços do mar, do charme das flores e dos segredos que guardam as noites estreladas, de andar com a cabeça nas nuvens e dos mistérios cheios de poesia.

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